sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O mito da Lusofonia


A Globalização, em todos os seus aspectos, deu origem às ilusões mais díspares, mas o mais incrível foi criá-las em elos tão fracos, como o nosso actual jardim à beira-mar plantado. O mito do Sebastianismo e do V Império de súbito ganhou nova força, alimentado, não pela honesta e comovente bibliografia de até aos anos 60, mas sim por aquilo que muita gente entende como o "encurtar" da distância geográfica e virtual entre as antigas "Províncias do Império", por meio das novas tecnologias, as quais acenderam uma fé desesperada e sonhadora naquilo a que chamam de Lusofonia, como se esta fosse algo possível de ser religado num todo coerente e homogéneo, constitutivo de um "Império português". Esse delírio vai tendo como suporte os mais variados blogues e outros espaços virtuais. 
A doce ilusão antidepressiva de uns e o coma alucinogéno de outros impede que se deparem com realidades tão simples como a irreversibilidade dos efeitos do modo como foi feita a descolonização africana e o respectivo direito de esses povos seguirem o seu destino, o qual apenas passa pela Lusofonia quando lhes dá vantagens económico-financeiras óbvias. Angolanos e moçambicanos querem a rica e vantajosa Commonwealth. Quanto aos antigos "colonizadores", basta ver alguns manuais escolares desses países para constatar aquilo que se ensina e aprende sobre a dita Lusofonia e descortinar o "futuro promissor" que esta terá.
Quanto ao Brasil, o Grito do Ipiranga foi tão justo quanto irreversível. Se há uma língua que nos une, há um imenso oceano que nos separa e outro oceano de assimetrias geográficas, de riquezas naturais e diferenças culturais inultrapassável. Os nossos destinos não se podem cruzar sem fazer valer a lei da natureza: o gigante engolindo o mais pequeno, com as consequências previsíveis: não prevaleceria Lusofonia nenhuma e economicamente ninguém dá nada a ninguém!
Todos estes povos me merecem o mais sincero respeito, e por isso mesmo acho que eles têm todo o direito a se rirem dos sonhos que vêm das ruínas do "Império". 
O maior feito português será sozinho e com seus próprios meios reconstruir algo do que resta de suas ruínas.

2 comentários:

Flávio Gonçalves disse...

Bom, é normal que a minha opinião não seja propriamente imparcial, afinal sempre sou membro do Conselho Consultivo do Movimento Internacional Lusófono, mas tenho que realçar que, geopoliticamente, o nosso espaço é o lusófono, não o europeu, a Europa está-se completamente a cagar para nós.

E sim, a maior parte dos Estados lusófonos também, mas nestes há o complexo de em tempos terem sido Império e conquistados por nós, na Europa é o contrário, conquistados fomos nós!

Até Alain de Benoist aponta a Lusofonia como via estratégia para Portugal.

Já agora, o companheiro se quiser, estamos a aceitar originais até 15 de Fevereiro: http://revistafinismundi.blogspot.com

É que sem escribas nacionais, é-nos mais difícil manter uma revista patriótica a sair pontualmente de três em três meses, por isso: força na caneta =)

Pedro disse...

Olá, Flávio

Concordo com Benoist quando ele aponta os espaços lusófonos como alvo de estratégias específicas e pontuais quanto a questões económicas, culturais e geo-estratégicas. Uma coisa completamente diferente é um projecto global e unificador que certas mentes vislumbram, tal como uma federação de Estados e coisas assim no género...
Quanto à Finis Mundi, ainda não tive oportunidade de o felicitar pelo excelente projecto, mas nunca é tarde. O convite muito me honra e vou esforçar-me para estar à altura.

Abraço
Pedro Félix